A cena é chocante. Um bando de sessenta golfinhos listrados é encurralado em uma pequena enseada por um bote com quatro homens. Utilizando facas e arpões, os pescadores começam a matar os animais de maneira dolorosa e lenta. Os golfinhos, que quando acuados jamais se afastam do grupo, não tentam fugir. Nem sequer atacam o mergulhador que vai jogando os animais feridos para dentro do barco. O mar fica tingido de sangue – com uma tonalidade de vermelho que lembra o sangue humano. Essa matança foi filmada na cidade japonesa de Taiji . Os japoneses são também os maiores caçadores de baleia. É compreensível que, por ser uma ilha e por não dispor de uma área suficiente para a criação de animais para corte, o Japão tenha o maior consumo per capita de pescado do mundo. Mais difícil de aceitar é a insistência nipônica em capturar espécies ameaçadas de extinção.
O Japão tem direito a caçar pouco mais de 400 baleias minke por ano, teoricamente para fins científicos, mas que na verdade abastecem a indústria alimentícia do país. Essa cota representa apenas 2% do que os japoneses costumavam tirar do mar na década de 60. "Como a caça comercial foi proibida em 1986, o Japão e outros países que têm demanda grande por esse tipo de carne passaram a caçar mais golfinhos". A Comissão Baleeira Internacional, que regula a atividade, não pode controlar a matança de golfinhos porque eles são caçados na costa marítima dos países, e não em águas internacionais, como as baleias. Por ano, são mortos no Japão 22.000 desses animais, cuja carne é enlatada e vendida em supermercados. Há vinte anos, eram 16.000. "Além do Japão, as Ilhas Salomão, no Oceano Pacífico, e as Ilhas Faroe, um território dinamarquês no Atlântico Norte, caçam sistematicamente golfinhos", Nas Ilhas Faroe, a caça acontece uma vez por ano em uma espécie de tourada viking: os animais são mortos a golpes de arpão apenas para manter viva uma tradição de séculos. Os ecologistas preocupam-se sobretudo porque suas 67 espécies (25 delas no Brasil) se reproduzem muito lentamente. Em média, um filhote a cada três anos por fêmea.
O problema ambiental não é o único motivo que provoca repúdio à caça de golfinhos. Há também um componente emocional. Junto com baleias e tartarugas marinhas, eles são os animais aquáticos que mais despertam a simpatia dos homens. Mamíferos como nós, os golfinhos possuem inteligência espantosa. São capazes de se reconhecer em espelhos e têm até uma cultura: pesquisadores descobriram que os filhotes aprendem com as mães técnicas de caça que outros indivíduos da mesma espécie não conhecem. Os golfinhos são dotados de uma espécie de fala. Emitem sons pelo orifício respiratório, situado no alto da cabeça, que servem para identificar cardumes de peixes e para comunicação com outros golfinhos.
Os golfinhos – ou botos, como são chamados em algumas regiões do Brasil – são associados à imagem do flíper, uma espécie comprovadamente dócil e amigável. Curiosos, eles gostam de se aproximar de surfistas e mergulhadores. Às vezes, permitem ser tocados. O único caso registrado de morte de uma pessoa causada por um golfinho em ambiente natural foi em 1994, no Litoral Norte de São Paulo, quando alguns banhistas tentaram tocar e abraçar um desses animais. Por isso, os estudiosos recomendam não se aproximar do animal. Fáceis de ser treinados, os golfinhos são muito apreciados em parques de diversões. É o caso da baleia orca, que, na verdade, é um golfinho – a principal diferença é que golfinhos têm dentes, e baleias, barbatanas. Os ecologistas denunciam que as técnicas de treinamento são dolorosas para os bichos: recebem até choque elétrico. Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética treinavam golfinhos para detectar minas aquáticas e para matar mergulhadores inimigos com lâminas de metal presas em seu dorso. Mais uma atrocidade praticada contra esses animais, que, pela curvatura que possuem nos cantos da boca, parecem estar sempre sorrindo.
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